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» Transpraia - O Comboio da Caparica
![]() Surge assim o primeiro projecto para instalar uma linha de caminho de ferro ao longo do areal, ligando a Costa da Caparica ao Cabo Espichel, numa distância superior a 20 quilómetros e que iria colocar fim ao isolamento de toda a orla costeira, bem como dotar a região de um produto turístico ímpar e atractivo.
O ambicioso projecto inicia-se com a formalização da empresa a 8 de Março de 1960, baptizando-a: TRANSPRAIA - Transportes Recreativos da Praia do Sol, Lda, e são iniciados os trabalhos de instalação dos carris e de toda a infra-estrutura.
![]() O Transpraia foi sem dúvida um projecto revolucionário e ambicioso e que precede a época de grandes investimentos e rapidamente conquista a simpatia dos veraneantes, tornando-se bastante popular nos anos que se seguiram, formando longas filas de espera e trazendo para esta atracção algumas figuras conhecidas, o que rapidamente coloca o Transpraia nas bocas do mundo.
Durante os primeiros tempos, a
viagem de regresso da praia da Riviera para a Costa era realizada em
marcha atrás por inexistência de placa giratória para inverter a
locomotiva. Neste local são também erguidas as oficinas que parqueiam e
albergam a manutenção da infra-estrutura e do material circulante,
constituidas por um edifício em betão, em tom amarelo onde sobressaem as
letras a vermelho TRANSPRAIA.
![]() Três anos mais tarde, em 20 de Julho de 1963, o comboio atinge a Fonte da Telha, um terminal que viria a ser definitivo, depois de desistido do ambicioso projecto de chegar ao Cabo Espichel.
Durante mais de 40 anos, esta ligação manteve-se inalterada, correspondendo ao percurso mais extenso realizado pelo Transpraia, representando uma distância de cerca de nove quilómetros de extensão, servindo 20 paragens, das quais quatro podem considerar-se estações pois permitem a realização de cruzamentos e manobras, uma vez que dispõe de duas vias.
Nesta altura as acessibilidades às zonas servidas pelo Transpraia são ainda reduzidas, servindo o Transpraia tambem para a deslocação da população. Porém, ainda na década de 60 a situação altera-se. Em 1966 é inaugurada a Ponte de Salazar (hoje, Ponte 25 de Abril) e a variante à estrada nacional 377 entre a Costa da Caparica e o centro de Almada (posteriormente baptizada IC20 e mais recentemente A38), com ligação directa à ponte. Estas duas emblemáticas obras fomentam decisivamente a evolução do transporte individual e a expansão urbanística da margem sul do Tejo e com isso o Transpraia perde importância nas deslocações regulares dos habitantes, sem que no entanto a sua função turística tenha decrescido. ![]() ![]() Sensivelmente ao quarto quilómetro encontram-se as instalações deste caminho de ferro, acessiveis por via rodoviária através da Estrada Florestal, estrada que acompanha a linha até a zona da praia do Rei. Daqui em diante, todas as praias tem reduzidas acessibilidades por via rodoviária, sendo ainda hoje o Transpraia a forma mais cómoda de lá chegar. ![]() Com esta alteração, a linha perdeu a paragem central, resultando, segundo dados publicados pela empresa, numa diminuição significativa do número de passageiros, tendo-se reflectido logo no verão de 2007. Nos últimos cinco anos, o Transpraia passou de uma média de 100 mil passageiros/ano para cerca de 20 mil, colocando em risco a sua existência, estando patente ano após ano, o fantasma do encerramento.
Apesar dos sucessivos alertas e ameaças, 2012 pareceu ser o mais sério de todos, sendo inclusivé anunciada a intenção de transferir a infra-estrutura para Cabo Verde.
![]() Da Nova Praia à Fonte da Telha, a velocidade raramente excede os 30 quilómetros por hora e a viagem faz-se em cerca de 25 minutos, variando ligeiramente o tempo de acordo com a procura, uma vez que as paragens intermédias, à excepção do local onde se realiza o cruzamento das composições - praia da Sereia - Waikiki - apenas se realizam caso haja embarque ou desembarque de passageiros. ![]() Em 2013, os bilhetes de uma zona têm um custo de 2,50€ (ida) ou 4,50€ (ida e volta). As crianças pagam respectivamente 1,20€ ou 2,00€. Caso se pretenda realizar a viagem completa desde a Nova Praia até à Fonte da Telha, o bilhete importa em 4,50 (ida) ou 7,50 (ida e volta). Também neste caso as crianças beneficiam de um desconto, ficando o bilhete de ida em 2€ e o de ida e volta em 3,50.
MATERIAL CIRCULANTE ![]() ![]() Todas as locomotivas foram adquiridas à Cristopher Schoter e dispõe de motorização Mercedes-Benz. Apesar da sua avançada idade, a fiabilidade do material é bastante positiva, sendo todo o parque sujeito a uma intervenção de manutenção mais profunda antes da abertura da época balnear. Na fotografia, temos o posto de condução da actual locomotiva 2, onde é notória a simplicidade dos comandos. No entanto, a inauguração da linha não ocorre com estas locomotivas. Inicialmente terão existido três outras locomotivas, cujo desenho era um pouco diferente das actuais, o posto de condução situava-se numa das extremidades e eram ligeiramente mais curtas, e estão presentes no capítulo "anos 60" do video, concebidas pelo mesmo construtor das que actualmente prestam serviço. Estima-se que foram abatidas ao serviço pouco tempo depois da entrada em serviço das actuais locomotivas - anos 70. ![]() Cada carruagem dispõe de oito bancos corridos, que oferecem quatro lugares, abertos lateralmente para acesso pelos estribos laterais exteriores. Nos tempos áureos do Transpraia, o comboio era constituído por quatro carruagens, e mesmo assim era frequente circular com a lotação completa, havendo em alguns períodos desdobramentos, permitindo aumentar a frequência de passagem dos comboios e com isso escoar a grande afluência que se concentrava nos terminais. O parque é ainda composto por dois vagões abertos, que auxiliam nas tarefas de manutenção da via. Inicialmente, estes vagões eram atrelados a algumas composições, permitindo aos passageiros o transporte de cargas mais volumosas.
INFRA-ESTRUTURA ![]() O carris constituídos por barras de 12 metros de comprimento e pesando 12 Kg por metro, foram adquiridos no Luxemburgo à Colmeta e estão assentes em travessas de betão colocadas directamente sobre a areia, através de tirefonds. Apesar das constantes manutenções a que é sujeita, a via não esconde o peso dos anos, fruto do rigor dos Invernos costeiros e das elevadas temperaturas a que está sujeita no verão, traduzindo-se num constante bambolear do pequeno comboio. Além dos términos - Nova Praia e Fonte da Telha, que possuem duas vias e placa giratória para inverter as locomotivas, a linha dispõe ainda de ![]() Os cruzamentos são realizados através de secções de dupla via protegidos no topo por aparelhos de mudança de via. Regra geral, o AMV está direccionado para a linha onde deve entrar e que se encontra livre, ficando o cobrador com a função de alterar a sua posição após a passagem da composição onde opera, de forma a que a próxima composição a necessitar de usar a linha fique com o percurso já preparado, evitando a paragem à entrada. A inversão das locomotivas nos términos realiza-se através da utilização das placas giratórias accionadas por força braçal dos tripulantes. Actualmente existem 3, sendo duas nos términos e uma terceira junto à oficina, na praia da Riviera.
![]() ![]() Neste local foi construído praticamente todo o material rebocado que circula actualmente na linha e é aqui que por volta de Fevereiro, todos os anos, se inicia o rotineiro processo de manutenção de todo o material circulante e se inicia a verificação minuciosa de toda a linha, substituindo os carris que necessitem de tal intervenção. O FUTURO ![]() Em 2012, noticias davam contam do interesse da empresa detentora do Transpraia em proceder ao levantamento integral da sua infraestrutura e material circulante, transferindo-o para Cabo Verde. No entanto tal não aconteceu e o Transpraia continua durante esta época balnear a deliciar os mais saudosistas e a cumprir a sua função de transporte a quem viaja para as praias da Costa até Fonte da Telha. Conheça o percurso e as paragens do transpraia e todas as fotografias presentes na galeria Ver percurso do Transpraia num mapa maior Por Ricardo Taveira
Colaboração de Joaquim Martins, Jorge Lopes, Leandro Ferreira e Ricardo Figueiredo Agosto de 2013 |
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